Thursday, December 26, 2013

amar os bichos é bom pra cachorro mas é antes de tudo amar a si mesmo ou não (e pet é o meu cacete!)

EU TE AMO, BICHO

A paixão dos brasileiros pelos seus animais e a relação de amor entre dono e pet

“Sabe o que acontece com os bichos, coitados? Eles dependem do ser humano para tudo. Então, para eles, a gente é Deus”, diz Neide. Do outro lado da cidade, no “diferenciado” bairro de Higienópolis, a roteirista Nina Crintz, 33 anos, assina embaixo. A “mãe” do buldog francês Otto, 1 ano, sente que “para ele eu sou Deus. Se eu não colocar comida, ele não come. Depende totalmente de mim para ter uma vida legal”. E Nina se esforça. “Fico o tempo todo tentando animá-lo. Dou até chocolate belga para ele, porque penso, que se não for eu, ele nunca vai provar.”
Bancar a divindade através dos bichos de estimação, segundo Mario Corso, é coisa antiga, de muito antes da atual indústria de pets. “No livro Caninos Brancos, do romancista Jack London, um índio aconselha o personagem a não dar muita confiança para o cão, pois ele nos veria como um Deus e, por isso, nós deveríamos tratá-lo com a distância que essa circunstância sagrada pede. As pessoas não levam esse conselho a sério. Por isso, começam como deuses e terminam escravos voluntários de seus pets.”
Alexia Santi
Neide e seus cachorros em seu apartamento de 30 m2 na Cohab Itaquera. Por mês, a aposentada gasta mais de metade de sua pensão com seus animais
Neide e seus cachorros em seu apartamento de 30 m2 na Cohab Itaquera. Por mês, a aposentada gasta mais de metade de sua pensão com seus animais
Deuses ou escravos
Fato: escravidão está embutida em muitas relações de amor entre donos e animais. Nina, a roteirista, é escrava do cachorro Otto. E aceita sem reclamar. “Ele faz coisas que eu jamais perdoaria se alguma pessoa fizesse.” Exemplos: ele destruiu todos os pés palitos dos móveis garimpados por Nina ao longo da vida, quebrou sua impressora, acabou com uma bolsa nova comprada em Nova York e por aí vai.
“Eu não consigo ficar com raiva dele porque sei que não sabe que é errado. E sinto que ele depende só de mim.” Nina, que se considera “retraída”, que não gosta de falar com estranhos na rua, passou a ser simpática – quando está com o cachorro. “O Otto gosta de brincar com os outros bichos, então, sou obrigada a socializar com os donos deles.”
Tanto esforço tem muitos motivos. Um deles é que Otto, segundo a dona, tem cara de quem sofre de crise existencial. “Ele fica com cara de tédio, aí começo a querer animá-lo.” Ela conta isso rindo, porque tem consciência de que é, ela mesma, uma entediada com o mundo.
“Sou tão apegado aos meus bichos porque não tenho filho, acho que a gente substitui”, diz o estilista Marcelo Sommer. A “paternidade” faz com que Marcelo afirme, como um pai de adolescentes, que os cães Yuri e Bowie “viraram um problema em sua vida”. “Eles são grandes e me dão muito trabalho, custam muito dinheiro, são uma crise eterna na minha vida.” Apesar disso ele não pensa, de forma alguma, em viver sem cachorro. “Não consigo.” Sim, bicho de estimação gera dependência. Todos os entrevistados afirmaram ser incapazes de viver sem seus animais.
Meu cachorro, meu filho
O lugar-comum de que os bichos viram filhos faz sentido, diz o psicanalista Mario Corso. “O amor aos animais é parecido com o aos filhos, afinal, trata-se de uma dedicação a um ser dependente e que precisa ser educado. Mas não acredito no amor gratuito, sem interesse. Os amantes dos animais não se questionam sobre os motivos de encherem sua vida de gatos. O que eles desconhecem é que isso tem a ver com a sensação de desamparo deles, que se projetou no animal.” Fora isso, claro, bicho é uma espécie de “filho” diferente, já que eles não crescem e vão seguir sua própria vida. E têm menos vontade própria que os seres humanos.
“eles não se questionam sobre o motivo de encherem sua vida de gatos. O que eles desconhecem é que isso tem a ver com a sensação de desamparo deles, que se projetou no animal”
Luiza, a louca dos gatos, tem outro temor. Mais específico – e inevitável: “Se eu morrer, o que vão fazer com meus gatos?”. Isso faz com que ela não se imagine como uma clássica louca dos gatos, a velhinha que vive cercada por bichanos. “Nunca vou fazer isso. É perigoso. As pessoas morrem e depois jogam todos os animais na rua.”
“A humanidade é muito cruel”, ela avalia, “não quero ter filhos em um mundo onde as pessoas tratam os bichos assim.” Atenção para a inversão. Tratamos bichos como filhos. E então deixamos de ter filhos (sim, somos complicados). Corso tem uma explicação. “Geralmente quem se dedica aos animais vem de um desencanto com os humanos, e se reconhece como bom e virtuoso. O mundo é que não seria bom. Logo, melhor não investir mais nesses ingratos humanos e se dedicar aos seres de quatro patas.”
Dona Bernardete de Oliveira, “mãe” de quatro cachorros, abriu o pet shop TJ, em Itaquera. Um cachorro mora na parte de baixo da casa. Os outros três, mais dois papagaios, vivem com a filha e o genro de Bernardete em um cômodo construído no segundo andar da casa. Ela explica esse amor meio louco. “Antes a gente achava que o bicho tinha que servir a gente. O cachorro era para guardar a casa. O gato era para matar rato. Agora, temos porque gostamos e assim eles passaram a fazer parte da família.” Pelo jeito, as “funções” dos bichos de estimação só aumentaram. Eles não guardam mais a casa, mas são “filho”, servem de projeção para nossas neuroses e até de motivo para não lidarmos com os problemas dos humanos. Não é pouco, não.

Reprodução The Ralph Steadman/ Book Of Dogs
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O animal no divã

por Jacob Pinheiro Goldberg*
Quando observamos a interação pessoa-animal, são dois entes da natureza na sua proximidade e no seu distanciamento que devem merecer análise. São inúmeros e o mais variados possível os territórios em que o ser humano e o ser animal coabitam a natureza e a civilização. Vejamos algumas dessas múltiplas dimensões:
1 O animal enquanto alimento carnívoro básico de quase toda a população mundial, visto como “natural” pela maioria e criminoso por concepções vegetarianas e por certas religiões. O medo, o sofrimento, a dor do boi no matadouro. E a “caça” como esporte aristocrático, com rituais e sofisticação.
2 A contrapartida, raríssima, do animal selvagem que ataca e mata o ser humano.
3 A sublimação, através da arte (cinema, literatura, contraponto musical), das emoções que envolvem esses intercâmbios.
4 A domesticação do animal, transformado em uma espécie de “objeto desejado”, privilégio e vítima de “sujeito desejante”, seu proprietário e amante, com todas as derivações do leque conflituoso de afetos – paixão, medo, ciúme, raiva, saudade, nostalgia. A eleição do cãozinho, do gatinho, do pássaro e de outros animais como o “estranho íntimo” da solidão do século 21. Suas casinhas, lojas, hospitais, cemitérios substituindo o papel da criança.
5 O animal, cobaia de laboratório, prisioneiro de ciência de experimentação para a medicina.
6 A zoofilia, anotada sexualmente em regiões do interior geográfico, usando galinha, égua e cães.
Sem dúvida o desafio da compreensão dos limites da inteligência e da sensibilidade dos animais adentra até o campo jurídico, como agente de direitos, nos leva a fronteiras sugestivas de mergulho na alteridade que nos remete à nossa própria interiorização. A propósito escrevi um poema, traduzido para inúmeras línguas e publicado inclusive na revista Kurara, da Universidade de Cracóvia:
O cavalo e eu
Extasiado, fiquei olhando os
olhos do cavalo. Mas enxergava
mais o êxtase que os seus olhos.
O cavalo, porém, me olhava e
(parece) me enxergava.
E assim, ficamos tão perto nos
olhando, e, no entretanto, as
infinitas distâncias,
sei que jamais o enxergaria.
E ele, o cavalo, quem sabe,
pudesse, realmente, me enxergar,
como eu mesmo, jamais me veria.
Neste universo do Imaginário e Simbólico
que vai do altruísmo até o sadomasoquismo.
* Jacob Pinheiro Goldberg é doutor em psicologia, escritor – autor, entre outros, de Magia Wygnania – e pai de Suzana, aluna de medicina veterinária
(publicado na trip. texto da nina lemos, fotos da alexia santia)

Tuesday, December 03, 2013

não foi bom pra cachorro;não foi bom pra ninguém(só mesmo a estupidez humana para engendrar coisas como esta)

Cachorros explosivos foram usados para combater tanques na Segunda Guerra Mundial

As bombas eram amarradas ao animais e ativada por controle remoto, mas o método era extremamente ineficiente



Reprodução / TodayIFoundOut.com
Reprodução / TodayIFoundOut.com
Hoje eu fiquei sabendo do uso de cães explosivos anti-tanques durante a Segunda Guerra Mundial. Esses cachorros, normalmente Pastores Alemães, também eram chamados de “Hundminen” ou “cães-minas”. Eles eram treinados para carregar explosivos presos aos seus corpos até tanques inimigos, onde seriam detonados. Não, as coisas não acabavam bem para os cachorros em questão.
Este tipo de arma com animais foi inicialmente usado pelos soviéticos. Seguindo uma decisão de 1924 que permitia que cachorros ajudassem o exército, uma escola de adestramento de cães foi montada em Moscou. Os militares recrutaram adestradores de cães policiais, caçadores, treinadores de circos e cientistas de animais. Doze outras escolas foram criadas seguindo o sucesso da primeira e a divisão de treinamento de cachorros na União Soviética foi então estabelecida.
No início, os cães eram treinados para carregar suprimentos, rastrear minas e salvar pessoas – tarefas nas quais os cachorros se destacaram. No início dos anos 1930, alguém decidiu que era uma boa ideia transformar o melhor amigo do homem em uma arma contra tanques. Três das escolas começaram a treinar os cachorros para este fim. Inicialmente, eles foram ensinados a carregar a bomba até um tanque e fugir dele; depois, a bomba presa ao corpo deles começou a ser detonada ou por controle remoto ou com um temporizador.
Eram muitos os motivos para esses métodos não funcionarem. Para soltar a bomba, os cachorros precisavam puxar um cinto com os dentes para lançá-la. Isso era muito complicado, e frequentemente eles voltavam sem soltar a bomba. Em segundo lugar, os controles remotos eram muito caros na época para serem usados, então os temporizadores eram usados com mais frequência. Mas se o cachorro retornasse ainda segurando a bomba, ele mataria todos que estivessem próximos. Mesmo se a bomba fosse lançada debaixo do tanque, se o tanque estivesse em movimento e o timing não fosse perfeito, ela explodiria sem causar nenhum dano ao tanque inimigo.
Os soviéticos abandonaram o plano inicial, mas elaboraram um novo. Em vez de soltar a bomba, os explosivos seriam presos aos cachorros. Quando os cães fossem para baixo do tanque, a bomba seria ativada, matando o cachorro (e quem sabe danificando o tanque).
Como se o fim da vida não fosse o suficiente, o treinamento necessário não era como um passeio no parque para os cachorros. Eles ficavam sem comer, e então a comida era posicionada abaixo de um tanque, para treiná-los a pensar que embaixo de tanques eles encontrariam comida. Depois de um tempo, sons adicionais de batalhas foram adicionados às aulas para eles não se assustarem ao caminhar no meio de um campo de guerra.
Os cachorros anti-tanques começaram a ser usados em 1941, quando as forças da Alemanha avançaram nas terras soviéticas. Trinta cachorros iniciaram o que seria uma estreia bastante medíocre do exército de cães explosivos; eles foram tão ineficazes que os militares soviéticos foram acusados de simplesmente sacrificá-los. O problema é que alguns dos cachorros simplesmente se recusavam a mergulhar para baixo dos tanques no campo. Soldados atiravam contra eles, e isso não acontecia durante os treinamentos, e eles não estavam dispostos a mergulharem embaixo de uma máquina imensa que aparentemente estava tentando matá-los. A esperança de encontrar comida não os motivava o suficiente. Eu poderia colocar um bife no meu aspirador de pó e nem isso faria meu cachorro se aproximar dele, mesmo se ele estivesse morrendo de fome. E um tanque com armas é um pouco mais barulhento e assustador do que um aspirador de pó.
Quando os cachorros eram baleados e mortos antes de conseguirem chegar à posição ideal para explodir, eles eram capturados pelos soldados alemães que conseguiam examinar as bombas e possivelmente copiá-las. Mas eles não conseguiram tirar muita vantagem disso; na verdade, um soldado alemão capturado afirmou que descobriu que o sistema era bastante ineficiente. Bem, e era. Um lado ruim disso é que os alemães conseguiram criar meios de se defender dos cachorros, fazendo com que seu sacrifício fosse completamente em vão.
Reprodução / TodayIFoundOut.com
Um problema muito maior era que os cachorros eram treinados com tanques soviéticos, e não alemães. E eles eram diferentes – usavam combustível diferente, e alguns dos cães farejavam o combustível usado para caçar os tanques, e acabavam assim explodindo os tanques dos próprios soviéticos.
Dito isso, os cachorros anti-tanques ficaram conhecidos por derrubar alguns tanques, incluindo na Batalha de Kurks quando doze tanques foram destruídos por dezesseis cachorros. Essa foi possivelmente a ação mais bem sucedida dos cachorros anti-tanques. Os soviéticos depois disseram que 300 tanques tinham sido destruídos pelo esquadrão de cachorros, mas muitos questionam o número, alegando que provavelmente foi invenção do governo soviético para justificar o programa, e para justificar a morte de tantos cachorros com tão pouco resultado.
Se eles foram úteis ou não, o fato é que passaram a ser cada vez menos usados, especialmente a partir de 1942. Ainda assim, esses cachorros anti-tanques continuaram a ser treinados até 1996.
Os soviéticos possivelmente foram os principais usuários desses cachorros, mas eles também foram treinados em outros países, incluindo Japão e Estados Unidos. Mais bombas foram amarradas em cachorros em 2007 quando insurgentes tentaram usá-los na Guerra do Iraque. Neste caso, há apenas um caso documentado de uma bomba que foi detonada ainda presa ao cachorro; protestos cresceram entre muçulmanos que acreditam que animais só devem ser mortos para servir de alimento.
Bônus:
• Cachorros não foram os únicos animais a servirem de armas. Também foram feitas tentativas de criar gatos, pássaros e ratos carregadores de bombas. As bombas também já foram presas a camelos, cavalos, burros e mulas. Burros foram bastante usados no Iraque porque eles podem carregar pacotes de bombas sem parecerem suspeitos. Mesmo macacos e, supostamente, baleias, poderiam estar no alcance explosivo dos militares,
• Golfinhos treinados pela União Soviética para matar foram vendidos ao Irã em 1990 quando o exército russo fechou seu programa de mamíferos marinhos. A Marinha dos Estados Unidos ainda tem um programa parecido, mas supostamente os golfinhos não são treinados para matar, e sim para realizar outras tarefas
(Por Emily Upton-- Gizmodo)